quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Incentivo à mediocridade

Tenho tido sorte por onde tenho passado. Ou, quem sabe, é até algo generalizado. É um sentimento comum que chama à normalidade, que censura a diferença, a originalidade, um qualquer rasgo de inspiração.

Um destes eventos disruptivos pode chamar a atenção. Pode fazer alguém sobressair face a outrém e distinguir-se pela positiva. Pode destoar do conforto alheio. Pode denunciar a cumplicidade existente:

Todos sabem que todos sabem que há coisas que não se dizem ou fazem.

Todos somos boas pessoas, é certo. Todos queremos fazer coisas bem feitas, é certo. E, até, quem sabe, poder ir fazendo coisas melhores e melhores ainda, é certo.

Desde que não se mexa: (i) no meu conforto, (ii) na minha navegação matinal pelos diários desportivos ou afins, (iii) na falta de brio com que faço as coisas, (iv) nas horas a que passo o cartão e em quem realmente o passa, (v) no não saber escrever ou falar, (vi) nas horas a que saio sempre que joga o Benfica, (vii) na opcionalidade de colocação dos piscas (viii) na liberdade de poder ser uma besta ao volante, entre outras.

Venha tudo do melhor, mas, não me mexam no ordenado.

Somos boas pessoas, bons amigos, bons colegas e iremos todos para o céu, é certo.

É fascinante a hipocrisia. O contraste entre o que se sabe que se sabe e não se diz e o que se sabe que se sabe e que se diz. É um determinado tipo de consciência comum que se consegue atingir depois de muito empenho e aprendizagem da vida.

Há que:

Nivelar por baixo,

já dizia o meu pai. Desejar atingir aquele patamar seguro e certo. Aquele que nos torne igual a todos os outros. Aquele que nos leve para além do nada, que nos faça sentir realizados.

Sim, porque ir além de para além do nada traz problemas, insegurança, risco e outras coisas ligadas à natureza incerta da vida. É estar a pedi-las!

É por tudo isto que faço aqui um apelo à mediocridade. Esta característica leva-nos com segurança a aquém do nível alto.

Mais vale aquém do que não além!