sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Local para não-fumadores

Nestes dias que sucederam a entrada em vigor da nova "lei do tabaco" tenho assistido a algumas situações interessantes. A maioria são protagonizadas pelos fumadores, de tão nervosos que andam, sem a habitual dose de nicotina no sangue (temos que ter alguma paciência com eles por uns tempos pois a privação da droga causa instabilidade no humor e no raciocínio do ser humano).

Vejamos, por exemplo, a seguinte entrevista:

Jornalista — Então o que lhe parece da nova lei...?
Não Fumador — Acho óptima e se calhar ainda é pouco, não deviam sequer poder fumar na rua...

(a outro transeunte)

Jornalista — Desculpe, acha que a nova lei do tabaco é demasiado restritiva?

Fumador — Eu até sou uma pessoa que compreende que o fumo incomoda as pessoas, mas parece-me que desta vez foram longe de mais, esquecendo-se de salvaguardar os direitos dos cidadãos fumadores...

 

É portanto lógico concluir que a nova lei já surte efeito. Cada um defende, descaradamente, a sua sardinha. Até os cidadãos não fumadores, afectados pela falta de fumo de tabaco no ar, não dizem coisa com coisa. Estamos todos a sofrer um período de desintoxicação. Já há ar suficiente por aí para que andemos todos meio zonzos, que até doi respirar, e se nos dá tonturas quando inspiramos "a fundo".

Entramos nos cafés e parecem desabrigados. Não é pessoas que lá faltam pois parecem ser as mesmas do costume, mas foi-se aquele ambiente acolhedor, que se vive em volta de uma panela fumegante.

 

Posto isto, as pessoas parecem, contudo, adaptar-se às novas regras, levadas por outros hábitos e vícios que agora emergem com maior importância. Não vi ninguém deixar de beber café, a sua mini a meio da manhã, de ver o futebol com a malta no café, para os amantes de gastronomia, de ir a um restaurante experimentar este ou aquele prato, para a malta da noite, deixar de ir curtir para os bares e discotecas, etc.

 

É curioso observar que as pessoas fazem agora  intervalos do convívio no café (bar ou discoteca) para irem fumar um cigarrinho lá fora!

 

Surgem aglomerados de fumadores à porta dos edifícios de empresas, a gozar o seu cigarro, e novas companhias (Eu sentir-me-ia exposto dessa maneira, tal qual se me pusessem com um letreiro ao pescoço a dizer: "Eu sou dependente de tabaco. Tenho que vir à rua drogar-me de quando em quando pelo que sou naturalmente menos rentável que qualquer dos meus colegas não fumadores.").

Os fumadores não devem sentir-se prejudicados. Podem agora disfrutar dos seus cigarros em dignas condições, sendo quase garantida a qualidade do ar circundante (pelo menos em dias de vendaval). O leitor menos atento não terá percebido, mas eu já fui fumador. Sei bem como o ar fresco pode melhorar o prazer obtido ao fumar um cigarro.

 

O que ainda não consegui compreender é porque é que é obrigatório todos os locais x e y terem letreiros a informar que é proibido fumar. Se anteriormente todos esses locais tinham que ter letreiros a dizer se era proibido fumar, porque, em geral, era permitido fumar em qualquer lado, por que é que agora, que, em geral "não é permitido fumar" em lado algum, não são os locais em que é permitido fumar que têm um letreiro a informar que "é permitido fumar".

Há coisas que a minha lógica matemática não tem expressividade suficiente para descrever. Não era mais fácil colocar placares nas fronteiras portuguesas a dizer "Local para Não-Fumadores" para garantir que toda a gente soubesse que cá, regra geral, não é permitido fumar?

Ora veja bem. Quantos são os locais para fumadores? 5 ou 10? E quantos são os para não-fumadores? Para aí uns 1 353 419?

O que é que é mais fácil, colocar 5 ou 10 letreiros ou 1 353 419 letreiros?

Deixo o problema como exercício para o leitor.