sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Como Não Semear Inimigos


  1. Não reajas:
    • a provocações
    • à má-educação
    • ao discurso absolutista
    • à demonstração de autoridade, ilegítima
    • à indiferença
    • ao ar de sua importância, sobranceria
  2. Não leves a peito:
    • a má-educação pode não te ser dirigida, mas, tão somente, a forma de ser de alguém...
    • há várias "convenções" para o que é ser bem-educado (desde o dedo espetado ao beber chá, à escarreta que rasa o sapato do do lado, ou à coçadela despreocupada, em público, das partes íntimas)
  3. Mostra-te não-demasiado-bem-educado
    • mistura-te
    • muitos vêem o ser-se bem-educado como uma manifestação ofensiva e elitista
    • ocasionalmente, compensa a boa-educação com uma opinião "da geral": acusa os políticos de serem ladrões e mentirosos, ou diz mal de um treinador qualquer
  4. Não interpretes literalmente o que se diz
    • por omissão, o que se diz, não é o que se diz
    • por omissão, e para bom entendedor, o que se diz não é para ser levado a sério — a norma é falar a brincar, uma convenção que é extremamente útil, pois quando nos enganamos, podemos dizer que estávamos a brincar
    • uma afirmação só é literal quando explicitamente seguida de uma expressão denotadora desse sentido, o de absoluto, de que o que se diz, é, mesmo, mesmo, o que se diz, tal como "literalmente"
    • às palavras "nunca", "sempre", "tudo", "nada", "qualquer", "todos", "nenhum", "ninguém", "nenhures", zero ou cem por cento, deve misturar-se o significado de "quase"
  5. Presume que o outro é bem-intencionado
    • Regra geral, é verdade
    • Por outro lado, nem todos têm o mesmo conceito de boa-intenção... ou de que fins justificam que meios
    • Mesmo que creias ou desconfies que não o é, continua a convencer-te de que o é
    • Ficarás mal, se te precipitares
    • Facilmente te viram a história do avesso, e fazem de ti o mal-intencionado
  6. Respeita a opinião contrária
    • A matéria em discussão é 100% objectiva?
      • A matéria é lógica, matemática?
      • Ou, a matéria refere-se a um facto histórico pessoal, ou (que é) do conhecimento geral, e estás em excelentes condições intelectuais?
        • Tens a certeza de que a memória não é falsa?
      • Ambos concordam com a carácter objectivo da matéria?
        • Se não, desvia a discussão para esse ponto, e retoma a inicial apenas quando e se houver acordo sobre isso
    • Se sim, apenas pode haver uma razão
      • Os únicos desfechos possíveis são i) apenas um tem razão ou ii) nenhum tem razão
    • Se a matéria não é 100% objectiva
      • É subjectiva
      • Não existe uma razão única
    • Em qualquer caso, convida à discussão adornando as tuas afirmações com expressões que denotem relativa certeza, subjectividade, abertura e espaço para a opinião contrária, como "acho que", "regra geral", "tenho quase a certeza de que", "salvo erro", "não sei o que achas, mas"...)
    • Evita expressões como "evidentemente", "obviamente", "é óbvio", "é evidente", "sem margem para dúvida", etc., pois são extremamente irritantes e raramente utilizadas com propriedade
    • Em última instância, desiste, com um socialmente correcto "discordo, mas respeito a tua opinião"...
  7. Se estás zangado, suprime a tua opinião
  8. Adapta-te ao outro
    • Podes até ter razão, mas:
    • Não fiques à espera que o outro mude, que corrija os seus defeitos — pode nunca acontecer —, ou que se adapte a ti
    • Se não te consegues adaptar, então afasta-te, desliga, não te sujeites
  9. Relativiza. Relaxa. Respira fundo. Ventila.

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